sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Ousada, Gotham Central mantém o alto nível dos volumes anteriores


Cada vez mais que avanço na leitura de Gotham City Contra o Crime (Gotham Central) mais eu tenho a certeza de que esta série nunca teria vez na atual orientação editorial da DC, encabeçada pelo trio Dan Didio, Jim Lee e Geoff Johns. Esta HQ não para de apresentar tramas ousadas, sem medo de tocar pontos polêmicos que ainda teimam em permanecer tabu dentro da indústria americana de comics de super-heróis.

Talvez seja por isso que uma personagem sensacional como Renee Montoya não tenha aparecido muito nas histórias do batuniverso. Sabe-se que estavam planejando a participação dela na semanal Batman Eternal, mas não soube se a ideia foi ou vai ser levada para a frente. Certo mesmo que Montoya está incrível no arco "Konexão Keystone" (edições 28 a 31). As melhores histórias da série acontecem quando ela participa ativamente da trama. Aqui não aconteceu diferente.

Em "Konexão Keystone", Montoya e seu parceiro, Crispus Allen, estão investigando a autoria de uma armadilha química que vitimou um policial de Gotham. O principal suspeito é um conhecido personagem da galeria de vilões do Flash: Doutor Alquimia. Mas a história não se atém, como de costume, exclusivamente ao caso principal. Nesse arco também acompanhamos como Montoya vem lidando com a rejeição de seu pai, que não fala mais com ela após descobrir sua relação homossexual.

O destaque negativo deste encadernado fica somente com a arte de Jason Alexander no arco "Sexo, Segredos e Chibatadas" (edições 26 e 27) que não se saiu bem ao tentar emular a arte de Michael Lark e Stefano Gaudiano, os "titulares" da arte da série.

Gotham City Contra o Crime: Vol. 5 - À Sombra do Morcego
Gotham Central #26-31
**** 8,5
DC | 2005
Panini | junho de 2007
Roteiro: Ed Brubaker e Michael Lark
Arte: Stefano Gaudiano e Jason Alexander
Cores: Lee Loughridge

sábado, 23 de agosto de 2014

Em sua reta final, Monster não é feito para leitores ansiosos


Monster caminha para a sua reta final atando algumas pontas soltas e criando muita tensão. Já não era sem tempo. Já há alguns volumes que venho achando que a história caminha em círculos, apresentando uma trama pouco inventiva. A impressão que passava era que as páginas corriam e não se via nenhum desenvolvimento relevante na história, ficando ela limitada na caçada de Yohan, que ainda teima em não dar as caras pra valer.

Nesse volume 12 já vimos o propósito de alguns arcos desenvolvidos até aqui. Parece que todo aquele périplo que o Tenma fez pelo leste europeu, conhecendo pessoas e procurando descobrir o passado de Yohan, vai realmente dar em alguma coisa. Primeiro, vários personagens secundários dos volumes anteriores estão se mobilizando para dar uma força para que Tenma prove sua inocência. Algo pouco factível, mas até aí tudo bem. Segundo, descobrimos finalmente qual a relação entre algumas peças até aqui soltas na história, como a prostituta Margot, o orfanato Kinderhein 511 e o magnata Schuwald. 

Apesar da corriqueira impressão de que a trama está pecando na objetividade, como se trata de Naoki Urasawa, fica a confiança de que ao final tudo fará sentido e ganhará propósito. Cabe a leitores menos pacientes (como eu) a conter a ansiedade por respostas e curtir os próximos seis volumes (a série foi concluída no volume 18).

Monster: Volume 12 - The Rose Mansion
**** 7,5
Panini | abril de 2014
Roteiro e arte: Naoki Urasawa

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

A fase de Jamie Delano a frente de Hellblazer se encerra com trama densa


Depois de sete volumes, a Panini finalmente concluiu uma das mais bacanas coleções lançadas nos últimos anos por aqui. Pela primeira vez no Brasil foi publicada toda a fase Jamie Delano a frente do título Hellblazer. A fase Origens chega ao seu final com uma trama difícil, cunhada para os verdadeiros fãs da série, para aqueles que prestaram atenção a cada detalhe das edições anteriores. Delano quis coroar a sua passagem pelo título com dois arcos eficientes e bem diferentes entre si.

Mas antes deles veio, na edição 35, a história "O Coração do Menino Morto" (desenhado por Sean Phillips), que conta um pouco sobre a infância de Constantine. O ponto fraco fica para a arte (Phillips não desenhava tão bem quanto hoje - vide a linda arte de Fatale) e para as cores de Tom Ziuko, que, somadas a qualidade ruim do papel piza brité, comprometeram bastante a arte da história. Coube então ao roteiro fazer todo o trabalho.

O arco seguinte, das edições 37 e 38, tira o foco um pouco sobre Constantine e se concentra mais em Mercury. Trata-se de uma trama interessante, justamente por fugir um pouco do foco na magia e se concentrar, no caso, nos limites da maldade humana. Uma das histórias mais perturbadoras de Hellblazer.

O arco final, das edições 39 e 40, trata-se de um trabalho de paciência ao leitor, principalmente aquele pouco efeito a se ater em detalhes. Jamie Delano pesou a mão no conteúdo e construiu uma trama que envolve boa parte da mitologia de Constantine (por ele mesmo construída), terminando de lançar suas derradeiras contribuições ao personagem, sobretudo ao inserir o fato dele ter tido um irmão gêmeo que morreu durante o parto.

Ao final, a Panini ainda adicionou ao encadernado algumas pontuais contribuições que Delano viria a ter após deixar Hellblazer, perfazendo (ao contrário do divulgado pela editora) quase todas as edições escritas pelo roteirista inglês a frente do título, faltando apenas a graphic novel "Pandemônio", escrita ao lado de Jock e já lançada em 2011 pela editora italiana.

Hellblazer Origens: Vol. 7 - O Coração do Menino Morto
Hellblazer #35-40, 84 e 250; Hellblazer Secret Files
**** 7,0
DC | 1990, 1991, 1994, 2005 e 2009
Panini | janeiro de 2014
Roteiro: Jamie Delano
Arte: Sean Phillips, Steve Pugh, Dave McKean e David Lloyd
Cores: Tom Ziuko

domingo, 10 de agosto de 2014

Terceiro volume de Blacksad vale a segunda leitura



Está aí uma das grandes injustiças editoriais do Brasil: Blacksad. Após lançado apenas dois volumes (dos cinco até agora existentes) lançados em 2006, a Panini desistiu da publicação da série. É realmente uma pena, pois Blacksad é um dos melhores quadrinhos adultos que existe, conciliando ótimas histórias com uma arte exuberante. Coisas da Panini, que é reincidente em abandonar material europeu, como fez mais recentemente com Face Oculta, após míseras duas edições.

Para quem não conhece, Blacksad é um detetive particular à moda antiga. Em Âme Rouge, Blacksad reencontra um velho amigo, Otto Liebber, cientista que está auxiliando no desenvolvimento de tecnologia nuclear. Ao se aproximar do amigo, Blacksad conhece Alma, que o faz a irremediavelmente a se envolver com o grupo de cientistas e intelectuais de esquerda, que estão sob investigação do governo.

O clima noir, predominante nas edições anteriores, não se sobrepõe tanto assim. O que continua presente é a funcionalidade e eficiência da opção de personagens animais antropomorfizados, pois é mais uma ferramento expressiva a disposição de Guarnido. É incrível como a personalidade de cada personagem se casa com o esteriótipo atribuído ao animal.

Aparentemente, a história se passam por volta da década de 70, quando a Guerra Fria estava mais acentuada. Aliás, essa é a temática predominante em "Âme Rouge" (Alma Vermelha"). Ao contrário dos dois álbum anteriores, neste a trama ganha um pouco de complexidade e mistura doses de geopolítica, ao retratar a época de caça às bruxas ocorrida nos EUA sobretudo durante a década de 60 e 70.

Apesar do tema batido, provavelmente você não terá coisa melhor pra ler após terminar Âme Rouge. Foi o meu caso, por isso o melhor que fiz foi reler a obra.

Blacksad: Volume 3 - Âme Rouge
***** 9,0
Dargoud | 2005
Roteiro: Juan Díaz Canales
Arte: Juanjo Guarnido

domingo, 3 de agosto de 2014

Ignorada pela mídia e pela Panini, "Super-Homem - As Quatro Estações" merecia mais créditos


Nessa modinha (que já está durando há um bom tempo) de revisitar as origens dos principais heróis dos quadrinhos pouco se falou numa das melhores: Super-Homem - As Quatro Estações. Causa até estranheza o fato de terem ignorado a minissérie durante todo o burburinho que cercou o lançamento do último filme do herói e as comemorações pelos seus 75 anos, e, por outro lado, falarem tanto de bombas como Terra Um e Novos 52. É uma pena, pois Quatro Estações é de uma qualidade incomum nos comics de super herói. Ouso mais, é umas melhores HQ's do Superman. 

O tom da série é totalmente diferente do que se está acostumado a ler. Consegue ser saudosista e entusiasta sem errar a mão, talvez porque não possui aquela pegada pretensiosa da maioria das histórias. Para chegar a esse resultado muito ajudou a estruturação da minissérie em estações do ano, de forma a combinar a estação título da edição com o seu narrador. Uma sacada sutil, porém muito eficiente.

No início, torci o nariz para a arte de Tim Sale, sobretudo quanto ao traço do Superman, que beirava o cartunesco. Mas depois acho que me acostumei com ela e parei de me incomodar, talvez porque enxerguei uma pertinência com o tom saudosista que Jeph Loeb quis passar para a história. No final, não comprometeu, apesar de ainda achar que Sale se saiu melhor em Mulher Gato - Cidade Eterna e O Longo Dia das Bruxas. Para compensar, as cores de Bjarne Hansen são fabulosas.

É de se espantar que a única publicação da minissérie no Brasil seja a da Abril em 1999, feita em quatro parte. Nenhum encadernadozinho desde então. Bola fora da Panini.

Super-Homem - Quatro Estações
Superman For All Seasons #1-4
**** 8,0
DC | 1998
Abril | setembro de 1999
Roteiro: Jeph Loeb
Arte: Tim Sale
Cores: Bjarne Hansen