domingo, 28 de setembro de 2014

Moderna e autocontida, atual série de Gavião Arqueiro dá nova vida ao personagem


Não deixa de ser alvissareiro ver que séries de qualidade como Hawkeye ainda possuem espaço no competitivo mercado de quadrinhos americano, sobretudo de super-heróis. A nova fase da revista do Gavião Arqueiro começou em 2012 no bojo da iniciativa Marvel NOW! e encabeçada pela dupla criativa Matt Fraction e David Aja. Fraction já é conhecido do grande público, sendo reconhecido por séries como Casanova e, mais recentemente, na elogiadíssima Sex Criminals (pela Image). Já David Aja foi uma grata surpresa.

O artista espanhol tem uma forma muito peculiar de desenhar, valendo-se de recursos pouquíssimos explorados hoje em dia, como relacionar a disposição dos quadrinhos com a trama. O seu traço, por sua vez, me lembrou um pouco o ótimo Michael Lark (Gotham Central), pois a aparente simplicidade do desenho é na verdade, após uma leitura mais detida, bastante sofisticado. Não chega a ser uma revolução artística, mas, diante da qualidade dos seus congêneres atuais, fica parecendo que é.

My Life as a Weapon é o nome do primeiro encadernado dessa nova fase, compilando as primeiras cinco edições. Nela acompanhamos a vida de Clive Barton quando não está com os Vingadores. Por isso, as histórias são muito autocontidas, não necessitando nenhum conhecimento prévio para apreciar a HQ em sua plenitude. Conhecemos aqui a rotina do herói junto com a sua parceira no arco-e-flecha Kate Bishop, que desempenha um papel de grande destaque na série.

Com diálogos ágeis, tramas espertas e de um ritmo habilmente conduzido pela dupla Fraction e Aja (e também Javier Pulido, que assina a arte das edições 4 e 5), Hawkeye fez por merecer a baciada de premiações e elogios que recebeu da crítica.

Em tempo, essa revista merecia melhor tratamento no Brasil do que vir escondida dentro do mix da revista do Capitão América. Justamente pela disposição isolada da série dentro do "universo Marvel", no mínimo um encadernado seria adequado, nos moldes que a fase de Mark Waid a frente de Demolidor está ganhando.

Hawkeye: Vol. 1 - My Life as a Weapon
Hawkeye (2012) #1-5
***** 9,0
Marvel | março de 2013
Roteiro: Matt Fraction
Arte: David Aja e Javier Pulido
Cores: Matt Hollingworth

sábado, 27 de setembro de 2014

O retorno de Justiceiro pelas mãos de Ennis e Dillon revitalizou o personagem


Preacher estava em sua reta final de publicação (a edição 66 saiu em outubro de 2000) quando a parceria entre Garth Ennis e Steve Dillon rendeu mais um fruto explosivo. Criado especialmente para abrigar histórias mais adultas com os personagens Marvel, o novo selo Marvel Knights possibilitou que a dupla tivesse mais autonomia para revitalizar o personagem Justiceiro nos quadrinhos.

Como o próprio Garth Ennis escreveu na introdução que abre o encadernado dessa fase, suas histórias servem para um único e exclusivo objetivo: divertir o leitor. Nada de fazer uma análise sociológica sobre a psiqué violenta de Frank Castle, nem tentar encontrar a origem para o seu comportamento. Nas palavras do irlandês:

"É para isso que estou nessa série, pessoal. Diversão. Pura e simples. Nada de uma análise complexa das causas do crime, nem o retrato da trágica queda de um homem numa psicose assassina, nem um exame aprofundado de um vigilante no passar dos anos. E nem a fórmula da Coca-Cola, também. Só risadas, ação e um monte de automáticas disparando pelo seu dinheiro."

Como dá pra perceber, Ennis sabe muito bem o que quer entregar para o seu leitor e quem se dispõe a lê-lo sabe exatamente o que esperar. Nessa sua passagem por Justiceiro (ele retornou ao título em agosto 2001 para mais 37 edições), ele, bem ao seu estilo, entrega uma história divertida e politicamente incorreta. 

A história em si não tem nada de excepcional ou digno de nota. Mas o maior ponto fraco do arco foi o núcleo centrado no "Esquadrão Vigilante", que ao final não teve nenhum desdobramento relevante e nem interferiu na história principal. Praticamente um filler, quase que um spin-off ao longo do arco.

Se seguir o plano de publicação original, em breve a Salvat lançará o arco em dois encadernados, dentro de sua Coleção Oficial Graphic Novels.

Justiceiro - Bem Vindo de Volta, Frank
The Punisher (2000) #1-12
**** 7,0
Marvel | 2000-2001
Panini | janeiro de 2008
Roteiro: Garth Ennis
Arte: Steve Dillon
Arte-final: Jimmy Palmiotti
Cores: Chris Sotomayor

sábado, 20 de setembro de 2014

"Do Inferno" traz uma versão mais perturbadora de Jack o Estripador


Algo nos últimos dias me impeliu a começar a leitura de Do Inferno, uma das obras seminais de Alan Moore. Talvez seja o recém-lançado livro do britânico que alega ter descoberto a identidade do Jack, o Estripador; talvez em razão da capa do também recentemente lançado Hellblazer Infernal: Vol 2, que mostra a versão de Garth Ennis e Walter Simpson dessa misteriosa figura. Mas talvez o maior motivo de começar a ler a obra seja realmente a sua importância e alegada qualidade.

Alan Moore quis dar a sua versão sobre o mistério de 126 anos. Para isso se valeu da maluca (mas bem interessante) teoria de Stephen Knight sobre quem seria o serial killer mais famoso de Londres. Para ele, Jack o Estripador seria um médico chamado William Gull que, a mando da Coroa Britânica, teria assassinado todos aqueles que conheciam da existência do filho bastardo do Príncipe Albert Victor, Duque de Clarence. A ideia de um sucessor bastardo na família real era inconcebível para a Rainha Victoria.

A obra está recheada de teorias da conspiração que envolvem maçonaria, família real e magia negra, adicionando à história, em si violenta, ares mais pesados. Soma-se a isso o traço sujo de Eddie Campbell (em preto-e-branco) e está estabelecido um clima perfeito para história de terror. 

O primeiro volume não é de leitura fácil. Alan Moore fez um detalhado estudo sobre a história britânica, bem como das tradições maçônicas. A passagem em que o Doutor William Gull expõe suas teorias para o cocheiro Netley ilustra bem todo esse apuro dispensado pelo roteirista. Esse rebuscamento histórico, contudo, compromete um pouco o ritmo da obra, que é bastante lento.

No Brasil, Do Inferno foi publicado pela Via Lettera entre 2000 e 2001 em quatro volumes e desde então está desaparecido das livrarias.

Do Inferno: Vol. 1
From Hell #1-3
**** 7,5
Kitchen Sink | 1991 e 1993
Via Lettera | abril de 2000
Roteiro: Alan Moore
Arte: Eddie Campbell

sábado, 13 de setembro de 2014

Ainda sem apresentar todo o seu potencial, Fatale melhora em seu segundo arco


Apesar de não apresentar nada muito especial em seu primeiro arco, algo em Fatale me deixou curioso para acompanhar a continuação. E a impressão que ficou após a leitura de The Devil's Business não foi muito diferente, apesar de notáveis avanços trama. O mistério em torno de Josephine é o principal elemento de interesse na trama, arrebatando o leitor do mesmo modo que ela faz com todos os homens que cruzam o seu caminho.

Fatale basicamente conta, em duas linhas temporais distintas, a história por trás do rastro de morte que Josephine (ser que não envelhece e exerce enorme poder de influência sobre os homens) deixa por onde passa. Como em qualquer trama de mistério que se preze, as respostas vêm aos poucos e em pequenas doses, deixando ao leitor pescar insinuações e estabelecer algumas relações.

Essa característica é algo muito presente na obra de Brubaker, predominantemente composta de quadrinhos policiais. Mas aqui ele adiciona novos ingredientes, sobretudo magia e terror. Quanto à arte, a casadinha Phillips-Stewart continua afiadíssima. A reconstrução histórica dos anos 70 está bem fiel e coerente. Sem falar nas capas... coisas lindas.

Um roteiro instigante unido a uma das melhores artes do mercado atualmente é mais do que suficiente para manter o interesse em um título nos dias de hoje que, salvo honráveis exceções (vindas quase todas de editoras fora do mainstream), sofre escassez de boas histórias. 

Fatale: Vol. 2 - The Devil's Business
Fatale #6-10
**** 8,0
Image | janeiro de 2013
Roteiro: Ed Brubaker
Arte: Sean Phillips
Cores: Dave Stewart

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

"A Saga da Fênix Negra" é presença obrigatória em qualquer antologia Marvel


Não podia ficar de fora da Coleção Oficial de Graphic-Novels da Marvel da Salvat o encadernado A Saga da Fênix Negra, sobretudo em razão do que ela representa dentro da história dos X-Men e por alça-los irremediavelmente a condição de sucesso editorial, depois de muitos anos ameaçado por cancelamentos.

Não há dúvidas de que a saga (dada por muitos como uma das melhores e mais importantes histórias em quadrinhos da história) representou um grande salto de qualidade dos quadrinhos, principalmente em uma época em que se predominava tramas inocentes e rasas, sobretudo na distinta concorrência (como a DC é também conhecida). Era impensável na grande indústria a construção de histórias tão complexas como as que os X-Men contavam no final da década de 70 e começo dos anos 80.

Histórias desse estilo lançaram tendência, contribuindo para fazer dos anos 80 uma das décadas mais fecundas criativamente nos comics. Roteiros tão verborrágicos como os que eram feitos naquela época são estranhos ao leitor moderno, mais habituado a muitas splash pages e poucas caixas de diálogo. Em razão desse costume de contar histórias excessivamente explicativas, e das contantes cópias e adaptações por quais passou desde então, que hoje a saga se encontra envelhecida e a leitura não se dê mais de forma tão fluida.

Esse encadernado de A Saga da Fênix Negra reúne aquelas clássicas nove edições escritas por Chris Claremont e desenhadas por John Byrne que, apesar de serem precedidas de outras histórias relacionadas, representam o ápice e o desfecho das consequências da transformação de Jean Gray na Fênix. 

Se desconsiderar a tosca reconstrução da perna do Wolverine na capa (já que na capa original havia um código de barras no lugar), a edição da Salvat é digna, impresso em um papel com boa gramatura e com textos explicativos e contextualizadores que situam bem o leitor iniciante. É uma ótima oportunidade para conhecer um dos quadrinhos mais importantes do gênero e que há muito tempo não desembarcava nas bancas do Brasil. Datava de 2006 o último lançamento da saga pela Panini.

Os Fabulosos X-Men: A Saga da Fênix Negra
Uncanny X-Men #129-137
**** 7,5
Marvel | 1980
Salvat | julho de 2014
Roteiro: Chris Claremont
Arte: John Byrne
Cores: Terry Austin

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Ação desenfreada em cenário futurístico dá o tom em Hard Boiled


Bons eram aqueles tempos em que tudo que Frank Miller tocava virava ouro. O começo dos anos 90 era uma época que obras como Batman - O Cavaleiro das Trevas 2 e Holly Terror eram inimagináveis vindas de sua parte. Infelizmente algo mudou na virada do século. Mas Hard Boiled - À Queima-Roupa integra o lado mais autoral  da obra de Miller (ao lado de Martha Washington, Sin City etc.), feitas após aquele período em que ele deixou o mercado a seus pés. Apesar do resultado também ter sido formidável, é preciso reconhecer que o maior mérito vai para Geof Darrow.

A sua arte hiperdetalhista é chocante. A eficiência da trama futurística de Miller não seria mesma sem os desenhos de Darrow. A sensação de cair de cabeça em meio a uma história maluca, chocante e intensa é ótima. Somente após muita violência e explosões que a trama vai ganhando sentido. Basicamente ela consiste na história de um androide psicopata que é utilizado para as mais diversas tarefas. Acontece que ele não tem noção de sua condição e, por isso, reage da pior maneira possível quando uma rebelião de robôs ameaça a dar início.

Vale mencionar que Darrow participou da produção do filme Matrix, credenciado pela sua criatividade mostrada nesse quadrinho ao retratar um futuro distópico e hiperpovoado. Os lindíssimos painéis desenhados por Darrow, tamanho o seu detalhismo, proporcionam uma experiência única e intensa. Intensa, pois, além da arte em si ser bonita, ela é dinâmica. Para quem gosta de um legítimo quebra-pau, ação desenfreada em forma de quadrinhos, não há exemplar melhor que o de Hard Boiled. 

Hard Boiled - À Queima-Roupa
Hard Boiled #1-3
**** 8,0
Dark Horse | 1993
Devir | agosto de 2008
Roteiro: Frank Miller
Arte: Geof Darrow