sábado, 24 de janeiro de 2015

Excesso de discurso patriótico prejudica o ritmo de "A Nova Fronteira"


Darwyn Cooke recebeu da DC uma oportunidade que poucos tiveram: liberdade para recontar a gênese não só dos principais personagens da editora, mas também a do próprio universo ficcional que os envolve, mesmo que alocado fora da cronologia padrão. Toda a ação da minissérie se passa no período do pós guerra, durante a década de 50, quando o governo americano baixa a lei de que todo justiceiro mascarado deve revelar sua identidade secreta e se reportar diretamente à Casa Branca. 

Poucos heróis se submeteram à medida, entre eles Superman e Mulher Maravilha. Este foi o contexto que determinou a derrocada da Sociedade da Justiça, uma vez que diversos heróis da Era de Ouro deixaram as atividades de vigilância, com a exceção de Batman, que manteve suas atividades em Gotham. Basicamente, este foi o contexto histórico escolhido para justificar a transição para a Era de Prata dos quadrinhos.

Entrelaçando eventos históricos verídicos com as origens da primeira linha dos heróis DC, vemos, por exemplo, a importância do Esquadrão Suicida, liderada por Rick Flagg, dentro da estratégia militar americana pré e pós Segunda Guerra. Também vemos a trajetória de personagens como Hal Jordan, Barry Allen e até do marciano J'onn J'onzz até se tornarem, respectivamente, Lanterna Verde, Flash e Caçador de Marte.

É evidente o cuidado que Cooke dispensou a criar a obra, tanto nos roteiros como na arte. O apuro histórico da trama é bastante minucioso e cuidadoso. Mas nada supera a arte interna de Cooke, cheia de sobriedade e elegância. O layout de três quadros por página, no formato widescreen, funcionou muito bem para que sua arte exibisse toda a sua beleza. Uma arte que combina muito bem com o período histórico pelo qual passa a história. Nenhum outro artista da indústria faria trabalho melhor.

Agora, o desenvolvimento do roteiro deixou bastante a desejar. O tom que Darwyn Cooke escolheu para contar a sua história prejudicou muito a fluidez da leitura. Embora tenha sido muito interessante o modo como ele organizou a cronologia DC, a execução dessa ideia pecou pelo tom patriótico do discurso. Talvez tenha seu cabimento perante o público americano, mas para o leitor de outros países prestigiar em demasia o discurso nacionalista ficou ruim. Ainda que esta tenha sido a tônica do período histórico retratado (em que prevalecia o embate ideológico e bélico com a URSS), transpassar essa tendência para os quadrinhos prejudicou a obra.

A despeito disso, a minissérie foi muito bem recebida pela crítica americana, tanto que a obra ganhou o Eisner de Melhor Minissérie em 2005. Lógico que se deve reconhecer a beleza da arte de Cooke e seu trabalho em entrelaçar a história dos heróis DC com o contexto histórico do período em que se passou a transição entre a Era de Ouro e a Era de Prata dos quadrinhos, mas é igualmente certo que A Nova Fronteira rendeu muito menos do que poderia, apesar do seu bom sprint final (durante a parte em que surge a ameaça do Centro).

DC: A Nova Fronteira - Volumes 1 e 2
DC: The New Frontier #1-6
**** 7,0
DC | março a novembro de 2004
Panini | julho e agosto de 2006
Roteiro e arte: Darwyn Cooke
Cores: Dave Stewart

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