Depois de criar o selo Marvel Knights para revitalizar a sua linha de revistas, e assim superar o limbo criativo que a Casa das Ideias havia se lançado durante os anos 90, o golpe de mestre da editora veio com a criação do universo Ultimate no ano 2000. Além de significar uma porta de entrada para novos leitores, que por si só era uma ideia batida já naquela época, esse universo representou um reforço criativo revitalizante para a editora, que até hoje capitaliza com as ideias surgidas dessa iniciativa. Os recentes filmes da Marvel, por exemplo, bebem diretamente dos conceitos introduzidos pelo universo Ultimate, tanto em quesitos visuais (como os uniformes de couro dos X-Men) quanto dramáticos (como a dinâmica existente entre os heróis em Os Vigadores).
E se a Marvel quisesse dividir o "bicho" desse sucesso todo, poderia começar reconhecendo o papel que Mark Millar teve quando essa iniciativa ainda era nada mais do que uma aposta. Embora sua importância rivalize com a de Brian Michael Bendis (que assumiu o Ultimate Spider-Man), Mark Millar se destacou tanto com suas histórias em Ultimate X-Men, que recebeu da Marvel carta-branca para fazer a versão Ultimate de nada menos do que dos Vingadores, ou dos Supremos, se usarmos o nome recebido pela equipe dentro do novo universo.
Só que seria difícil imaginar o sucesso do título sem a arte de Bryan Hitch. Tida como cinematográfica por muitos, por emular em muitos momentos a concepção widescreen das telas de cinema, seu traço é marcante sobretudo em razão do seu nível de detalhamento. Foi o melhor do trabalho de sua carreira até agora. Parece que todos os quadro receberam o mesmo cuidado do artista, são raras, por isso, as ocasiões em que fundos neutros são usados. Os seus painéis, de tão sensacionais, esconderam bem a limitação do roteiro de Millar, sobretudo no arco Segurança Nacional. Prestes a assumir a arte da revista da Liga da Justiça (com roteiros de Geoff Johns) a expectativa é que Hitch repita o bom desempenho
Quanto à trama, ela funcionou muito bem enquanto Millar se ateve aos dramas internos existentes dentro da própria equipe (durante o arco Super-Humanos), principalmente aos problemas conjugais de Hank Pyn e Janet Pym e do descontrole de Bruce Banner/Hulk. Mas quando o pano de fundo virou a invasão alienígena o roteiro deglingolou sensivelmente, embora o nível de ação, e consequentemente do impacto da arte de Hitch, tenha compensado tudo. O que acontece é que a grandiloquência do tom de Mark Millar ás vezes me incomoda, e a solução que ele dá a sua histórias geralmente não estão no mesmo nível de sua proposta inicial. Todavia, Os Supremos, ao final, foi um sucesso absoluto, entregando tudo aquilo que a Marvel precisava naquele momento: um arrasa-quarteirão que não fosse o Hulk.
Como eu já havia escrito em outra coluna por aqui, Millar é craque em escrever histórias cinematograficamente apelativas, que poderiam perfeitamente se transformar na principal aposta de qualquer estúdio durante um verão americano. Hoje, publicando pela Image, parece que ele está tentando fazer obras diferenciadas, com tramas mais elaboradas, como Jupiter's Legacy e Starlight, mas durante sua passagem na Marvel, a pegada era essa mesma: muita ação, pancadaria e personagens marcantes.
Os Supremos
Ultimates #1-13
**** 8,0
Marvel | março de 2002 e abril de 2004
Salvat | outubro de 2013 e fevereiro de 2014
Roteiro: Mark Millar
Arte: Bryan Hitch
Arte-final: Paul Neary e Andrew Currie
Cores: Paul Mounts