segunda-feira, 10 de agosto de 2015

[Hotlist] Faroeste

Assim como foi aconteceu no cinema, os faroestes eram um filão tradicional nos quadrinhos, mas que com o passar dos anos perdeu a força e hoje sobrevive apenas em alguns títulos tradicionais. Salvo raras exceções, como Loveless e Django/Zorro, é um gênero que carece de novos personagens e, digamos, novos universos. Não é por menos que a nossa lista traz somente personagens clássicos, há muito estabelecidos e com longa trajetória nos quadrinhos.

Uma das maiores criações de Moebius, idealizada conjuntamente com Jean Michel Charlier, o Tenente Blueberry representa o ponto alto do gênero nos quadrinhos. Ao longo de dezenas de álbuns, Blueberry subverteu o esteriótipo do herói cowboy e se estabeleceu como um aventureiro rebelde, cujo charme as mulheres não resistiam. Apesar de já ter sido desenhado por vários artistas, foi nas mãos de Moebius que conheceu seu auge artístico. O estilo realista do artista francês foi inovador na época que surgiu (1963), e do qual Blueberry se tornou indissociável. Blueberry não só representa um modelo a ser seguido nos quadrinhos de faroeste, mas é também um dos maiores expoentes dos quadrinhos franco-belgas.

Cowboy que atira mais rápido que a própria sombra, Lucky Luke é mais um clássico dos quadrinhos franco-belgas a integrar a nossa lista. Ele foi criado pelo artista belga Morris em 1946 na lendária revista Spirou e desde então, ao longo dos seus mais de 70 álbuns lançados, sua popularidade só cresceu, sendo responsável por milhões de cópias vendidas em todo mundo. Ao contrário de outros títulos congêneres, Lucky Luke proporciona uma leitura agradável em razão do efeito mágico do humor de suas histórias, apostando na ironia e gags visuais para entreter. Isso em muito se deve à marcante participação dos roteiros de René Goscinny (criador de Asterix), que, ao lado da arte de Morris, exploraram o potencial narrativo dos pequenos detalhes. Felizmente, a Zarabatana voltou a publicar a série, tendo até agora publicado um encadernado compilando três histórias.

Criado em 1974 por Giancarlo Berardi e Ivo Milazzo, Ken Parker é tido pela crítica como expoente máximo do gênero. O Rifle Comprido, como também é conhecido, é baseado num filme estrelado por Robert Redford chamado "Jeremiah Johnson", que contava a história de um soldado de guerra que abandona a carreira e parte para o oeste em busca de paz. A dupla de criadores italianos se baseou nesse plot para desenvolver seu personagem: um sujeito prático e versátil, que se ocupa com afazeres tão díspares quanto ser caçador de recompensa e poeta.. Segundo o próprio Giancarlo Berardi, Ken Parker "não tem nenhuma certeza, nenhuma segurança, vive dia após dia com seus próprios ideais, buscando ardente, desesperada, corajosa e dolorosamente ser coerente." No Brasil, a Mythos já chegou a manter um revista regular do personagem, que infelizmente acabou descontinuada. Hoje, o personagem é publicado nos álbuns de luxo lançado pela editora CLUQ.

Jonah Hex é um dos personagens mais interessantes da DC Comics. Compartilhando do mesmo universos ao lado de lendas como Superman, Batman e Mulher-Maravilha, Hex é um mundano caçador de recompensas, cuja aparência deformada e figurino que remete ao confederados derrotados da Guerra Civil Americana implanta medo por onde estende sua influência. É tido como o homem mais mortal vivo, algoz de centenas de almas e, definitivamente, o maior anti-herói de nossa lista. Mas a melhor definição de seu caráter foi dado por John Albano, que, ao lado de Tony DeZuniga, criou o personagem na revista All-Star Western #10 em 1970: "Ele foi herói para uns, vilão para outros. E por onde passava, as pessoas pronunciavam seu nome em murmúrios. Não tinha amigos, esse tal Jonah Hex... Mas possuía duas companhias constantes: uma, era a própria Morte... A outra, o cheiro acre da fumaça das balas dos revólveres."

A sua longa tradição editorial no Brasil faz de Tex Willer a maior celebridade de nossa lista. Ele representa a figura do legítimo cowboy seguidor da lei: incorruptível, corajoso, caridoso e bom de tiro. O ranger (espécie de autoridade da lei que vagava pelo oeste americano) foi criado em 1948 na Itália pela lendária dupla Giovanni Luigi Bonelli e Aurelio Gallepini e praticamente foi o responsável pela ascensão e sucesso da Sergio Bonelli Editore, berço do fumetti italiano e uma das maiores editoras de quadrinhos do mundo.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Em "Os Surpreendentes X-Men", Whedom e Cassaday voltam às origens dos mutantes


Quando Joss Whedom assumiu os roteiros da nova revista X-Men, Astonishing X-Men, ele talvez nem imaginasse que ele viria a dirigir uma das adaptações cinematográficas de super-heróis mais bem sucedidas da história. Ele já vinha de uma carreira sólida na TV, mas ainda incipiente nos quadrinhos e no cinema.  Mas isso não atrapalhou para que, com o perdão do trocadilho, surpreendesse a crítica. Ao lado do brilhante John Cassaday, Whedon criou um dos melhores runs da história dos X-Men e desde então já é tida como clássica.

Seguindo orientação do editorial da Marvel, o roteirista resgatou os uniformes coloridos e tradicionais da equipe, abandonando o couro escuro implantando por Grant Morrison e Frank Quitely em Novos X-Men, que influenciou por sua vez os primeiros filmes dos heróis no início dos anos 2000. Não foi somente isso, o primeiro arco de sua passagem pela revista contou com a volta de Colossus, membro fundador da segunda geração de mutantes e considerado morto desde que foi usado para erradicar o vírus Legado (mostrado em Uncanny X-Men #390 de janeiro de 2001). Como fica fácil perceber logo nos primeiros números, essa fase tratou-se de um retorno às origens, na medida que Whedom se valeu de diversos elementos que compõe a identidade da equipe, como a abordagem de temas éticos (como a cura do mutante), o preconceito e a consequente rejeição pública. 

Essa guinada ao passado não passou de uma reação natural depois de todo o experimentalismo proporcionado pela era Morrison. Portanto, nada mais conveniente que um retorno às origens, ainda mais se no meio do processo tiver que ressuscitar um personagem. Nada mais natural que isso nos quadrinhos de super-herói. A diferença que a parceria Whedon-Cassaday fugiu do sentimento de terra arrasada que os demais títulos da franquia proporcionava e conseguiu produzir uma fase notável, com histórias divertidas e bem escritas, que ao mesmo tempo respeitou a história dos personagens e evoluiu na construção deles.

Trata-se de uma das coisas que conseguem me agradar em quadrinhos de super-heróis: fazer uma história que, embora possa aparentar simplicidade, é bastante competente em sua proposta. Todos os personagens agem de forma coerente com sua personalidade, sem atitudes gratuitas ou apelativas. Wolverine é o impulsivo, o Fera é o ponderado; Ciclope, o líder; a Kitty, o coração. Sim, essas pré-definições podem parecer rasas, mas qualquer personagem é construído a partir de uma personalidade definida, diferente das demais, que pode evoluir ou não ao longo da trama. Whedom, conhecedor do background dos X-Men, explora muito bem isso, ao passo que faz uso de cada um deles em seu enredo, fazendo-os úteis e relevantes, e não meramente uma reprodução mecanizada, como frequentemente acontece nos quadrinhos.

A fase Whedon-Cassaday durou 24 edições mais a edição Giant-Size, mas as recém-lançadas edições da revista pela Salvat em meio a sua coleção Graphic Novels Marvel apenas compilam as primeiras 12 edições, que apesar de abarcar dois arcos mais ou menos completos, deixa muitas questões em aberto para o restante da série, como o segredo de Emma Frost, o papel da Agente Brand e da organização ESPADA e, por fim, da repentina aparição do clube do inferno na última página da edição 12. Os dois encadernados da Salvat certamente devem ter deixado muitos que não conheciam a revista com vontade de ler o restante das edições. Atitude altamente recomendável.

Os Surpreendentes X-Men - Superdotados e Perigoso
Astonishing X-Men #1-12
***** 9,0
Marvel | julho de 2004 a agosto de 2005
Salvat | abril de 2013 e abril de 2014
Roteiro: Joss Whedom
Arte: John Cassaday
Cores: Laura Martin