segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Em "Os Surpreendentes X-Men", Whedom e Cassaday voltam às origens dos mutantes


Quando Joss Whedom assumiu os roteiros da nova revista X-Men, Astonishing X-Men, ele talvez nem imaginasse que ele viria a dirigir uma das adaptações cinematográficas de super-heróis mais bem sucedidas da história. Ele já vinha de uma carreira sólida na TV, mas ainda incipiente nos quadrinhos e no cinema.  Mas isso não atrapalhou para que, com o perdão do trocadilho, surpreendesse a crítica. Ao lado do brilhante John Cassaday, Whedon criou um dos melhores runs da história dos X-Men e desde então já é tida como clássica.

Seguindo orientação do editorial da Marvel, o roteirista resgatou os uniformes coloridos e tradicionais da equipe, abandonando o couro escuro implantando por Grant Morrison e Frank Quitely em Novos X-Men, que influenciou por sua vez os primeiros filmes dos heróis no início dos anos 2000. Não foi somente isso, o primeiro arco de sua passagem pela revista contou com a volta de Colossus, membro fundador da segunda geração de mutantes e considerado morto desde que foi usado para erradicar o vírus Legado (mostrado em Uncanny X-Men #390 de janeiro de 2001). Como fica fácil perceber logo nos primeiros números, essa fase tratou-se de um retorno às origens, na medida que Whedom se valeu de diversos elementos que compõe a identidade da equipe, como a abordagem de temas éticos (como a cura do mutante), o preconceito e a consequente rejeição pública. 

Essa guinada ao passado não passou de uma reação natural depois de todo o experimentalismo proporcionado pela era Morrison. Portanto, nada mais conveniente que um retorno às origens, ainda mais se no meio do processo tiver que ressuscitar um personagem. Nada mais natural que isso nos quadrinhos de super-herói. A diferença que a parceria Whedon-Cassaday fugiu do sentimento de terra arrasada que os demais títulos da franquia proporcionava e conseguiu produzir uma fase notável, com histórias divertidas e bem escritas, que ao mesmo tempo respeitou a história dos personagens e evoluiu na construção deles.

Trata-se de uma das coisas que conseguem me agradar em quadrinhos de super-heróis: fazer uma história que, embora possa aparentar simplicidade, é bastante competente em sua proposta. Todos os personagens agem de forma coerente com sua personalidade, sem atitudes gratuitas ou apelativas. Wolverine é o impulsivo, o Fera é o ponderado; Ciclope, o líder; a Kitty, o coração. Sim, essas pré-definições podem parecer rasas, mas qualquer personagem é construído a partir de uma personalidade definida, diferente das demais, que pode evoluir ou não ao longo da trama. Whedom, conhecedor do background dos X-Men, explora muito bem isso, ao passo que faz uso de cada um deles em seu enredo, fazendo-os úteis e relevantes, e não meramente uma reprodução mecanizada, como frequentemente acontece nos quadrinhos.

A fase Whedon-Cassaday durou 24 edições mais a edição Giant-Size, mas as recém-lançadas edições da revista pela Salvat em meio a sua coleção Graphic Novels Marvel apenas compilam as primeiras 12 edições, que apesar de abarcar dois arcos mais ou menos completos, deixa muitas questões em aberto para o restante da série, como o segredo de Emma Frost, o papel da Agente Brand e da organização ESPADA e, por fim, da repentina aparição do clube do inferno na última página da edição 12. Os dois encadernados da Salvat certamente devem ter deixado muitos que não conheciam a revista com vontade de ler o restante das edições. Atitude altamente recomendável.

Os Surpreendentes X-Men - Superdotados e Perigoso
Astonishing X-Men #1-12
***** 9,0
Marvel | julho de 2004 a agosto de 2005
Salvat | abril de 2013 e abril de 2014
Roteiro: Joss Whedom
Arte: John Cassaday
Cores: Laura Martin

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