Os anos 90 foram terríveis para a Marvel. Durante a década ela enfrentou a pior crise de sua história, que quase a levou a falência. Os motivos para a derrocada da editora são diversos, mas convencionalmente reputam a bolha especulativa dos comics que ocorreu durante aqueles anos como o principal motivo. Maiores detalhes sobre a história pode ser conferidos no livro Marvel - A História Secreta, de Sean Howe. Para se salvar desse buraco, a Marvel implementou uma série de medidas para capitalizar, sendo que a mais famosa delas foi vender os direitos de adaptação cinematográfica de seus personagens para diversos estúdios. Outra dessas medidas, foi a criação de novos selos e linhas editoriais especiais, de modo alcançar um público mais amplo e renovar os leitores.
O selo Marvel Knights, ao lado da linha Ultimate, foi o destaque dessa nova fase da editora. E deu muito certo. Começando por quatro títulos (Pantera Negra, Inumanos, Justiceiro e Demolidor), a linha editorial logo se estendeu às demais revistas da editora. Essa bem sucedida estratégia se deve, em grande parte, ao gênio de Joe Quesada, que além de comandar o editorial do selo através de sua empresa (Event Comics), também integrou a equipe criativa de sua principal revista: Demolidor.
Coube à Kevin Smith (então famoso pelo sucesso de sua primeira empreitada cinematográfica com Clerks) o roteiro do primeiro arco desse relauch da revista Homem Sem Medo. A revista, bem como a iniciativa como um todo, foi um grande sucesso, catapultando a carreira de Quesada dos desenhos direto para o editorial da Casa das Ideias.
De fato, o sucesso comercial da estratégia é incontestável, muito embora a qualidade da obra inaugural do selo Marvel Knights, Demolidor - Diabo da Guarda, não tenha envelhecido bem e hoje seja uma história bastante inferior à gloriosa trajetória do herói nos comics, composto por histórias diferenciadas e adultas. Dificilmente Kevin Smith se encaixará dentro da galeria dos melhores roteiristas que passaram pela revista, composta por nomes de peso como Frank Miller, Ed Brubaker e Mark Waid. O mesmo pode se falar dos desenhos de Joe Quesada que, embora tenha seus apreciadores, peca pela simplicidade e dependência da arte-finalização do ótimo Jimmy Palmiotti.
O Diabo da Guarda é uma história bastante pretensiosa, busca explorar o passado de Matt Murdock, sua religiosidade, sua vida amorosa desastrada, seu passado com o Rei do Crime, enfim, diversas facetas da complexa identidade do herói. Essa megalomania de Kevin Smith foi seu fracasso. Ele não soube alinhavar todos esses elementos com coerência e fluidez, deixando a trama capenga, artificial e forçada. O excesso de texto também (que em si não é algo ruim) não ajudou. Enfim, a Salvat provavelmente elencou esse arco em sua coleção de graphic novels mais devido a sua importância dentro da trajetória editorial da revista do que propriamente pela sua qualidade.
Demolidor - Diabo da Guarda
Daredevil (1998) #1-8
*** 6,5
Marvel | novembro de 1998 a junho de 1999
Salvat | abril de 2014
Roteiro: Kevin Smith
Arte: Joe Quesada
Arte-final: Jimmy Palmiotti
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