Continuando o ótimo trabalho que tem feito com a Vertigo no Brasil, chegou a vez da Panini arrumar a casa de Astro City no Brasil. A exemplo de outros títulos que também tiveram uma publicação bastante irregular, como Hellblazer e Monstro do Pântano de Alan Moore (ambos já publicados integralmente), a Panini promete fazer o mesmo com Astro City. O primeiro volume, Vida na Cidade Grande, já havia sido publicado por aqui pela Pandora Books em 2003, mas a editora não deu continuidade ao título, ao passo que o encadernado seguinte, Confissão, saiu pela Devir em 2006 sem nenhum indicativo de continuidade da publicação da Pandora.
Apesar de Astro City trabalhar com arcos e até edições com histórias fechadas, essa irregularidade prejudicou um dos grandes méritos do título, o sentido de coesão que Busiek aos poucos transmite ao leitor. A opção por não focar suas histórias em apenas um personagem específico faz com que cheguemos a óbvia conclusão de que o centro da série é a cidade, composta por cidadãos comuns que aprenderam a conviver com superseres. Trata-se quase de um estudo sobre como seria a nossa realidade se, de fato, os super-heróis existissem.
Em Vida na Cidade Grande vamos pouco a pouco imergindo no clima que Astro City está sempre mergulhada, onde o extraordinário espreita a cada esquina. Contudo, o extraordinário, aquilo que Busiek está mais interessado em retratar, está na convivência das pessoas comuns em meio a uma cidade densamente habitada por super-seres. Por isso, não espere, pelo menos neste primeiro arco, uma grande aventura envolvendo um vilão cruel devastando alguma cidade. Isso é secundário e, curiosamente, que bom que tenho sido assim.
Isso, por outro lado, não impediu que se homenageassem os heróis clássicos da Marvel e DC nos personagens da série. Por exemplo, o Samaritano é obviamente inspirado (inclusive visualmente) em Superman, sendo seu alter ego também um funcionário de uma periódico local. A Primeira Família, que nesse encadernado tem apenas uma pequena participação, é claramente uma versão alternativa do Quarteto Fantástico. E não é só isso, parece também que Busiek se auto referencia. É só notar a segunda edição, onde um repórter de jornal acompanha um super-herói na esperança de escrever uma matéria sobre ele. Não só o repórter, mas como a própria estrutura da história lembram bastante Marvels, obra também roteirizada por Busiek anos antes.
Os quadrinhos estão repletos de releituras e reinvenções do gênero de super-heróis, haja vista obras como Watchmen, Top Ten e The Boys (só para citar algumas). Mas Astro City veio para apresentar um ponto de vista diferente para o gênero, ao passo que além de focar em somente uma única cidade (viva e interativa), dá grande destaque ao ordinário em meio ao extraordinário. É da apresentação desse contraste de que basicamente se trata esse primeiro encadernado.
Além de uma introdução de Busiek, o encadernado da Panini também traz vários esboços e estudos de personagens de Alex Ross, que esteve diretamente envolvido na concepção da obra. Dentre os extras, destaca-se o mapa de Astro City, com indicação dos bairros, rios e suas respectivas geografias. Toda essa preocupação da equipe criativa demonstra mais uma vez a preocupação em fazer da cidade um personagem autônomo da obra, de forma semelhante a que Gotham City é para o Batman.
Astro City Vol. 1 - Vida na Cidade Grande
Astro City (1995) #1-6
***** 9,0
Image | agosto de 1995 a janeiro de 1996
Panini | abril de 2015
Roteiro: Kurt Busiek
Arte: Brent Anderson e Alex Ross
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