Não é muito comum encontrar nos quadrinhos mainstream obras tão fortemente calcadas na linguagem metalinguística quanto Planetary. O quadrinho de Warren Ellis e John Cassaday não optaram pelo caminho que Grant Morrison seguiu em Homem-Animal e em Patrulha do Destino. Eles expandiram o universo referencial e abordaram a cultura pop como um todo, como se toda a obra ficcional já criada habitassem o mesmo universo. É nessa realidade que a organização Planetary (composta por Elijah Snow, Jaquita Wagner, O Baterista e pelo misteriosos Quarto Homem) atua.
Quando li a recente versão da série que a Panini lançou, fiz questão de não ler nenhuma resenha a respeito. Quis entrar nesse mundo com o mínimo de coordenadas possíveis. Buscava a genuína experiência do leitor quando do lançamento da obra. Claro, que não tem como fugir do prévio conhecimento da relevância que a obra alcançou e de sua qualidade. Mas gostaria de me influenciar no mínimo com tais julgamentos e ter a minha própria ideia sobre a obra, evitando ao máximo conceitos alheios.
O que eu vi nos primeiros seis números da obra, mais um pequeno especial lançado antes, foi de uma obra difícil, mas que respeita a inteligência do leitor. O tom impenetrável do começo, logo foi se amenizando, e logo podemos compreender melhor sobre a missão da misteriosa organização Planetary. Só que nada é entregue facilmente. A obra não padece do defeito muito comum hoje em dia de deixar tudo explicadinho para o leitor. Ele deve ralar um pouco se quiser ter a noção completa da trama.
Logicamente que, bem ao estilo de Warren Ellis, a trama maior não dá pra sacar nesse primeiro volume. A obra é composta de histórias isoladas em cada número, mas que juntas compõe um quadro único, que vai sendo pintado paulatinamente.
Nesse primeiro volume, os arqueólogos do impossível investigam o alvorecer e fim dos heróis da Era de Ouro (é clara a referência ao Sombra, Tarzan e Doc Savage), a morada dos famosos monstros japoneses, a história de vingança típica dos filmes de ação asiáticos e uma versão alternativa da corrida espacial, que deu origem a supervilões livremente inspirados no Quarteto Fantástico. Não somente a trama é referencial, como John Cassaday faz questão de adaptar sua narrativa gráfica às exigências do gênero explorado, demonstrando toda a sua versatilidade.
Planetary #1-6
**** 8,5
Wildstorm | 1999
Panini | 2013
Roteiro: Warren Ellis
Arte: John Cassaday
Arte-final: Laura Depuy
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