segunda-feira, 15 de junho de 2015

Ousada para a época, "O Contrato de Judas" representa ponto alto da parceria Wolfman-Pérez


Denny O'Neil em seu Guia DC Comics de Roteiros explica de forma muito didática sobre o que se trata o Paradigma de Levitz. Para o autor, ao longo de uma série mensal de quadrinhos, o roteirista precisa desenvolver além da história principal, sub-enredos não necessariamente ligados a história principal, mas que enriquecem a leitura. Eventualmente, esses sub-enredos se transformarão em histórias principais, ao mesmo tempo em que novas histórias secundárias são criadas. É um processo constante que, dentre inúmeros benefícios, são responsáveis por manter o universo ficcional coeso além de prender a atenção do leitor, atiçando sua curiosidade. Essa técnica, muito usada durante a Era de Bronze dos quadrinhos, tem esse nome em razão de ter sido Paul Levitz quem melhor a empregou, principalmente durante a sua fase na revista da Legião dos Super-Heróis.

Outro bom exemplo do emprego do Paradigma de Levitz pode ser visto na revista dos The New Teen Titans criada por Marv Wolfman e George Pérez no início dos anos 80. Já nas primeiras edições da série já é possível acompanhar bem como essa técnica funciona: temos o sub-enredos do relacionamento de Dick Grayson e Estelar, do mistério sobre as origens de Ravena, e, principalmente, do passado sombrio do Exterminador. Logo, na segunda edição de The New Teen Titans vemos a primeira aparição do vilão, que irá, anos depois, desencadear os eventos da melhor história da revista e, provavelmente, da melhor história de super-herói da DC nos anos 80: O Contrato de Judas.

Em The New Teen Titans #2, acompanhamos Grant Wilson se comprometendo com a organização COLMEIA em eliminar a equipe, em troca de receber super-poderes. Como seria de se esperar, Grant foi derrotado e morto. Ao final da edição descobrimos que Grant era, na verdade, filho de Slade Wilson, o Exterminador. Esse subenredo só foi ser retomado três anos depois, quando finalmente Slade Wilson decide cumprir o contrato que seu filho havia firmado com a COLMEIA e, assim, subjulgar os Novos Titãs. Para isso se valeu de uma espiã, Terra, que virou um membro da equipe titã somente para que ele descobrisse todos os segredos da equipe.

Trata-se de uma melhores histórias feitas pela DC naquela época, que subverteu um pouco as convenções que os quadrinhos de heróis tacitamente mantinham, ainda sob influência do Comic Code Authority. Wolfman e Peréz quiseram fazer de Terra uma espécie de Kitty Pride do mal. Mas o mais interessante de tudo isso foi a forma como a dupla criou nos leitores da época a expectativa de que, ao final, ela iria se redimir e trair Exterminador. Nada disso, Terra encontrou seu destino fatal no desfecho do arco, surpreendendo a todos.

O Contrato de Judas é uma história tão rica e simbólica que não há como aqui eu abordar todas as nuances do roteiro. Dentre as diversas passagens notáveis, temos a primeira aparição de Dick Grayson como Asa Noturna, descobrimos o passado de Slade Wilson e como ele acabou se transformando num assassino letal, que não tem nada contra os super-heróis, mas que em razão do contrato não cumprido assumido pelo filho se viu forçado a atacar. Aos olhos de Wolfman e Perez, Exterminador está mais para anti-herói do que um vilão propriamente dito. Enfim, trata-se um grande história que se mantém inédita no formato encadernado aqui no Brasil. A última vez que ela pintou por aqui foi em 1992 nos formatinhos da Abril.

Os Novos Titãs - O Contrato de Judas
Tales of The Teen Titans #42-44; Tales of The Teen Titans Annual #3
**** 8,5
DC Comics | maio a agosto de 1984
Roteiro: Marv Wolfman
Arte: George Pérez
Arte-final: Dick Giordano e Mike DeCarlo

Um comentário:

Unknown disse...

Também considero 'O Contrato de Judas' uma das melhores Histórias de todo o multiverso quadrinistico, kkk queria muito que pulblicassem uma versão encadernada.