domingo, 14 de fevereiro de 2016

Inédita no Brasil, "A History of Violence" expõe nossa fragilidade diante da violência


Na época do lançamento do filme Marcas de Violência, de David Cronenberg, eu não fazia ideia de que se tratava de uma adaptação de um quadrinho. Nem mesmo o diretor fazia ideia disso, pelo menos não até o longa receber uma indicação ao Oscar de melhor roteiro adaptado. Esse desconhecimento é bastante compreensível no Brasil, já que a obra de John Wagner (Juiz Dredd) e Vince Locke (Sandman) nunca foi aqui lançada, ao contrário de outra obra do selo Paradox também adaptada com sucesso para o cinema, Estrada da Perdição, lançada por aqui pela editora Via Lettera.

A History of Violence conta a história de Tom McKenna, um pacato dono de uma lanchonete cuja rotina é alterada drasticamente após impedir com as próprias mãos que seu comércio fosse assaltado, matando um dos bandidos e rendendo o outro. Devido a exposição do caso pela mídia, ele é reconhecido por membros da máfia de Nova York como um antigo desafeto, cujas contas ainda estão para serem acertadas.

O quadrinhos aborda bem, pelo menos no início, o quanto estamos sujeitos a ter nossas vidas transformadas do dia pela noite por eventos tão extraordinários, quanto aleatórios. Nenhum de nós está seguro suficiente para afirmar estar livre de situações bizarras como a que Tom McKenna se meteu. A introdução de John Wagner para a edição aborda justamente esse aspecto da trama: pessoas comuns apanhadas em situações extraordinárias. Ninguém está a salvo, e esse é o preço de se viver em uma sociedade tão violenta quanto a nossa.

Já a segunda parte da trama foca no elemento violência, mais precisamente nessa cadeia de atos violentos que une as mais variadas pessoas, inclusive através dos tempos. Wagner retrata esse mal como uma espécie de vírus, que passa de pessoa para pessoa e nunca para. Essa é a história de violência, algo que transcende o tempo, ao ponto de se tornar elementos formador de uma sociedade. Uma vez que você se permite ser parte agente dessa história de violência, ela vai persegui-lo pela vida toda, por mais que você sinta livre de sua influência.

O filme de Cronenberg segue outros rumos se comparado com a HQ que o inspirou, por isso, se você viu o filme, não deixe de ler a HQ. Se no filme vemos uma trama mais focada na família do protagonista, esmiuçando os reflexos dessa tragédia entre seus membros, o quadrinho preferiu trabalhar mais no embate entre McKenna e os mafiosos que buscam vingança. Mas, talvez o mais importante, leia para apreciar a fantástica arte de Vince Locke.

A History of Violence
***** 9,0
Paradox | maio de 1997
Roteiro: John Wagner
Arte: Vince Locke

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