domingo, 1 de março de 2015

Em seu primeiro trabalho na Image, Morrison ficou devendo

Happy!, Devir

Em tempos de lançamento do aguardado Nameless, de Grant Morrison e Chris Burnham, vale a pena falar um pouco sobre a primeira contribuição do roteirista escocês para a Image Comics, Happy!. A minissérie emquatro edições foi lançada pela Devir no final do ano passado, aproveitando a ambientação natalina que tem presença marcante na obra. Havia muita expectativa sobre como Morrison ia se sair com uma série de sua propriedade, já que a maior parte do seu trabalho foi para editoras como DC e Marvel que não cedem os direitos dos personagens aos seus criadores, além de praticarem uma conservadora política de royalties. Na Image, a autonomia de Morrison é praticamente total.

Happy! conta a história do ex-policial Nick Sax que, após ser expulso da corporação, passa a ganhar a vida como assassino de aluguel. Quando o seu último serviço dá errado e ele se torna alvo de seu próprio cliente, Sax começa a ter alucinações com um cartunesco cavalinho azul voador chamado Happy. Mas apesar de clima de piração total que a essa sinopse pode denotar, o fato é que Happy! é uma das obras mais pés-no-chão recentemente escritas por Morrison. Há muita pouca daquele rebuscamento e pretensão que é marca de suas histórias. E até por isso a leitura do encadernado é fluída é pode ser feita numa "sentada só", sem que o leitor seja assaltado por reviravoltas mirabolantes ou por intrincadas entrelinhas a cada final de página, como acontece em Os Invisíveis, por exemplo.

Talvez por isso ou não que a qualidade da série não faça jus a reputação de Morrison, uma vez que a história, embora curta, seja arrastada e de pouca objetividade. Ela poderia muito bem ser resumida em duas edições, a primeira e a última. Esse meio de campo compreendido pela segunda e terceira edição é praticamente preenchido pela incredulidade de Nick Sax em dar crédito aos avisos de Happy, que poderia muito bem ser cortado sem prejuízo para a intelecção da obra. Por isso, a trama demora a engrenar e quando isso finalmente acontece é tarde demais, e o desfecho se dá de forma apressada.

A leitura vale realmente a pena por causa da arte de Darick Robertson (Transmetropolitan e The Boys), cuja arte está visceral como nunca. Todo o mérito pelo impacto que a obra eventualmente possa ter se dá em razão de seu lápis, ainda que nas última edições ele tenha perdido muito de sua qualidade (a série sofreu com atrasos e não conseguiu ser lançada a tempo para o Natal de 2012).

Mas decisão nenhuma chega a ser tão desastrosa quanto a da Devir quanto ao modo de lançamento da obra. Mesmo para um encadernado capa dura, é exorbitante cobrar 56 reais por ele, ainda mais se considerar que são apenas 136 páginas. O resultado disso é que pouquíssimas pessoas terão acesso à obra. Pra piorar, parece que esse vai ser o padrão seguido pelos demais lançamentos da Image por aqui, como ocorreu com Ministério do Espaço, Projeto Manhattan e Saga.

Happy!
Happy! #1-4
**** 6,5
Image | setembro de 2012 a fevereiro de 2013
Devir | novembro de 2014
Roteiro: Grant Morrison
Arte: Darick Robertson
Cores: Tony Avina

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