Corrigindo uma desvio inaceitável para qualquer apreciador de quadrinhos e estudioso da arte, finalmente pude ler Hellboy - Sementes da Destruição, primeira minissérie da criação máxima de Mike Mignola. Hellboy, embora hoje seja um personagem amplamente conhecido e aclamado, é fato que seu início se deu de forma até certo ponto obscura. Na época de lançamento (1994), editoras como Dark Horse e Image começavam a ser tornar atrativas para grandes nomes da indústria, pois forneciam espaço para eles lançarem suas obras originais que não encontravam espaço nas limitadas regras editorias da Marvel e DC. John Byrne (cuja participação se restringiu apenas no primeiro arco), inclusive, vinha de um barulhento rompimento com a Marvel após vários anos de trabalhos prestados, justamente em razão de divergências editorias.
Hellboy, todavia, teve sua primeira participação em um folheto promocional da San Diego Comic Con de 1992 numa história curta, também compilada no encadernado da Mythos. Mas as origens e a primeira grande história do demônio de bom coração foi a minissérie em quatro partes Sementes da Destruição. Nela acompanhamos a malfadada experiência nazista de trazer uma entidade das trevas que seria capaz de desequilibrar a guerra para o lado alemão. Ocorre que a criatura (um bebê demônio) encarna em outro lugar, praticamente caindo no colo dos EUA, que já vinham investigando o projeto alemão. A narrativa avança então em cerca de 50 anos, quando encontramos Hellboy já grande e trabalhando como investigador sobrenatural para a B.R.P.D, departamento de investigação paranormal mantido pelo governo americano.
Mignola e Byrne se saem muito bem ao construir o enredo deste arco, uma vez que se ativeram aos detalhes da trama, sem deixá-lo didático e enfadonho. São várias as lendas e mitos contados ao longo das quatro edições do arco e todas elas são muito bem utilizadas como apoio a trama. Ao contrário do que esperava acontecer, não foi feito muito mistério sobre o ocorrido na noite que Hellboy encarnou na Terra, pois o primeiro caso investigado por Hellboy e seus companheiros do B.R.P.D. foi provocado pelo feiticeiro que o invocou. Logo, em Sementes da Destruição, Hellboy fica frente a frente com suas origens e desvenda parte do mistério que foi o seu passado.
Embora seja apenas o arco inicial, Mignola já demonstrava todo o seu virtuosismo artístico pelo qual a série se notabiliza até hoje. Suas composições de sombra e luz contrastantes dão ares lovecraftianos à obra, técnica que vem sendo continuamente aperfeiçoada pelo artista. O autor fez recentemente declarações de que o final da saga de Hellboy se aproxima do fim, mas enquanto isso não acontece, acompanhemos Mignola testando os limites de sua criação.
Hellboy Vol. 1 - Sementes da Destruição
Hellboy - Seed of Destruction #1-4
***** 9,0
Dark Horse | março a junho de 1994
Mythos | maio de 2008
Argumento e Arte: Mike Mignola
Roteiro: John Byrne
Cores: Mark Chiarello
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