domingo, 15 de fevereiro de 2015

"Flashion Beast" foge da crítica fácil sobre o mundo da moda


Malcolm MacLaren foi uma figura controversa. Mais conhecido por ter sido o empresário da icônica Sex Pistols, MacLaren também foi um grande entusiasta de outros tipos de arte, sobretudo a moda. Conduzido por sua então esposa, a estilista Vivienne Westwood, ele teve uma participação bastante ativa no estabelecimento da moda punk, numa época em que o Reino Unido ainda engatinhava tal expressão artística. Em certa altura de sua carreira, num incerto momento entre o final dos anos 80 e início dos anos 90, MacLaren pediu a Alan Moore um roteiro para um filme a partir de um curto argumento de sua autoria. Assim nasceu Fashion Beast.

Conforme o próprio Moore reconheceu no prefácio que acompanha o encadernado da Panini, somente quando a Avatar se interessou em adaptar a história de Fashion Beast é que ele se recordou da sua existência. Mas não coube a Moore a adaptação do roteiro cinematográfico para os quadrinhos, e sim para Antony Johnston (de Umbral e Neonomicon), que, aliás, fez um ótimo trabalho. Assim como o desenhista Fecundo Percio (de Caliban), que soube recriar perfeitamente o ambiente decandente, claustrofóbico e artificial do mundo que Moore quis passar. Isso sem falar em sua habilidade em desenhar e colorir os todos os inventivos figurinos que desfilam pelas páginas, dando mais fidedignidade à história. 

Quanto ao mundo de Fashion Beast, não há qualquer indicação sobre lugar ou período em que a história se passa, sabemos somente que uma guerra de proporções nucleares está acontecendo.  Isso faz a preocupação com moda um coisa ainda mais fútil. Ou será que não? Será mesmo que a moda não tem nada para dizer sobre o mundo em que vivemos? Isso, e diversas outras questões, são abordadas na obra. Primeiramente, vale falar sobre as linhas gerais da obra: Doll é uma "mulher que parece um homem que parece uma mulher" que trabalha no guarda-volumes na boate "Catwalk" até que é demitida. Tentando a sorte numa seleção para a nova modelo da grife do lendário estilista Jean-Claude Celesine, Doll consegue o trabalho, entrando de cabeça no mundo da moda. Celestine fica sempre recluso em sua torre, e sua aparência é um mistério. Sua presença é apenas sentida através de suas roupas.

De início achamos que Moore queria era fazer uma crítica social sobre o mundo da moda, com todo seu glamour, em que a aparência significa tudo. É sobre isso também, e sua exploração da não identificação de gêneros entre os personagens Doll e Jonni (sendo este um "homem que parece uma mulher que parece um homem) comprova isso. Mas vai além, e com isso foge desse lugar comum, uma vez que passo a passo a trama se aprofunda na relação que existe entre o que a moda tem a dizer sobre o contexto social da época. A moda pode representar tanto o espelho quanto o motor da história da humanidade, e o espelho distorcido do ateliê de Celestine é bastante sugestivo quanto a isso.

Como se deve esperar de quadrinhos escritos por grandes roteiristas, não pode o leitor esperar que a primeira leitura possa dar conta de todas as nuances da obra. Infelizmente não se pode dizer que Fashin Beast se tratou do ressurgimento de Alan Moore com uma grande obra, já que se trata de um roteiro antigo. Ainda assim foi um grande prazer ler essa outra preciosidade da obra do "bruxo de Northampton".

Fashion Beast - A Fera da Moda
Fashion Beast #1-10
***** 9,0
Avatar | agosto de 2012 a maio de 2013
Panini | fevereiro de 2014
Roteiro: Alan Moore e Antony Johnston
Arte: Fecundo Percio

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