sábado, 7 de fevereiro de 2015

Em "A Última Caçada de Kraven" DeMatteis e Zeck contam uma das aventuras mais sombrias do Homem-Aranha


Como destacou bem o diretor de publicações da Panini Itália, Marco Lupoi, na introdução do Espetacular Homem-Aranha - A Última Caçada de Kraven, da Coleção Graphic Novels Marvel, pode-se considerar a obra como um fruto do momento editorial por qual passava os quadrinhos no final dos anos 80. Momento esse que se convencionou a chamar de "Idade das Trevas", graças ao quadrinho expoente da tendência: O Cavaleiro das Trevas. Frank Miller havia ditado o tom que havia de preponderar nos próximos anos nos quadrinhos de herói, muito embora essa tendência já estivesse presente desde a fase de Neal Adams a frente da revista do Batman.

Aproveitando o momento, J. M. DeMatteis escreveu uma história que há muito tentava emplacar em uma revista de super-herói. Facinava-o a imagem do herói se levantando do túmulo, voltando da morte como uma fênix. A DC já havia vetado a ideia com o Batman durante a fase do escritor a frente do título. Coube então ao Homem-Aranha, após aprovação da Marvel, viver tamanha provação. Ao entorno dessa insistente imagem, DeMatteis criou uma história e tanto, uma das melhores histórias protagonizadas pelo cabeça de teia.

Colocar Kraven obcecado pela caçada suprema, representado pelo Homem-Aranha, a única caça que ele não conseguiu subjugar, representou um ótimo ponto de partida. Todavia, essa premissa se expande de forma magnífica, ao passo que ao longo da caçada descemos fundo na psiqué de ambos, caça e caçador, Peter Parker e Kraven. Este guarda enorme rancor da derrocada de sua família, de origem russa, nos Estados Unidos. Em sua mente doentia, porém obstinada, personifica a fonte de todas as suas angústia e frustrações no Homem-Aranha. Este, por sua vez, se agarra na lembrança de Mary Jane para emergir (em sentido metafórico e literal) diante da provação imposta por Kraven.

A propósito, a Última Caçada de Kraven se desenrolou ao longo das três revistas do Homem-Aranha que saíam na época: Web of Spider-Man, The Spectacular Spider-Man e Amazing Spider-Man. A ideia de entrelaçar os títulos se deu porque a Marvel precisava ocupar as três revistas durante o casamento de Peter Parker e Mary Jane que ocorreu em Amazing Spider-Man Annual #14. Ou seja, pode-se considerar que este arco foi a primeira aventura de Peter pós-casamento.

Também conhecida pelo nome Terrível Simetria (em alusão ao poema O Tigre de William Blake), o arco também tem Rattus como vilão, que apesar de ter pouca projeção dentro da famosa galeria de vilões do Aranha, ganha aqui um elemento humano inesperado. Numa primeira impressão, ele parecia ser mera massa de manobra para os planos de Kraven, mas ao final, ganhou um componente trágico. Essa é a principal matéria-prima da história: a tragédia. Através dela, ninguém passa incólume: nem Kraven, nem Peter, nem Rattus e, certamente, nem o leitor.

O Espetacular Homem-Aranha: A Última Caçada de Kraven
Web of Spider-Man #31-32, Peter Parker: The Spectacular Spider-Man #131-132 e Amazing Spider-Man #293-294
**** 8,5
Marvel | outubro e novembro de 1987
Salvat | novembro de 2013
Roteiro: J. M. DeMatteis
Arte: Mike Zeck
Arte-final: Bob McLeod

Nenhum comentário: