Há quem não goste dele. Há quem odeie. O fato é que para muita gente, basta mencionar o nome de J. M. Staczynski para que se torça o nariz. Boa parte da rejeição que o roteirista sofre se dá em razão da sua controversa passagem pela revista do Homem-Aranha, que desagradou muito os fãs de longa data do herói. Embora carregue um nome de peso, depois de fazer uma carreira de relativo sucesso na TV, Straczynski ainda não emplacou um ainda um grande sucesso na nona arte. Rising Star, sua primeira grande obra nos quadrinhos, até que recebeu boas críticas.
Mas seu trabalho mais elogiado é Midnight Nation, ainda escrito no começo de sua carreira nas HQ's. Totalmente intimista, trata-se de um projeto extremamente caro à Straczynski, de modo que ele se dedicou especialmente na sua concepção. A premissa é muito bem elaborada. A realidade em que vivemos não é única, compartilhamos sem saber o espaço com uma dimensão obscura, para onde vão todas as coisas esquecidas e renegadas. Se uma pessoa não tem família ou amigos, pouco a pouco ela vai desaparecendo de nosso mundo e se adentra numa outra realidade, abandonada, habitada por outras pessoas e coisas que sofreram do mesmo mal.
Os dois primeiros números da série são promissores. O mistério inicial e os personagens principais haviam sido apresentado, já estava claro o paralelo com os dogmas cristãos de céu, inferno e limbo. Mas, infelizmente, a execução não foi boa. Não é porque juntamos uma série de boas sacadas que o resultado será necessariamente bom. Staczynski optou por empregar em demasia um tom rebuscados e pretensiosos. Infelizmente, se perdeu uma boa ideia em razão da sua inépcia em privilegiar o conteúdo ao invés do formato.
Para piorar a história se rende uma série de clichês desnecessários, como a tentativa de David Grey a dar um último adeus a sua ex-namorada. Pensando por dois segundos já dava pra sacar que não seria uma boa ideia procurá-la, já que era de conhecimento prévio que os Errantes o vigiavam o tempo todo. Mas é claro que Grey precisava ter uma oportunidade de bancar o herói e salvar o dia. Ainda que tudo isso tenha originado de uma grande burrice sua. E convenhamos, a saga de David Gray consiste basicamente na jornada do herói, o que deixa o final previsível demais.
Claro que Midnight Nation tem sim os seus ponto positivos. A dinâmica entre os dois personagens principais se desenrola naturalmente e agrada. A inserção do personagem Lázaro dentro do contexto da série também é muito criativa. Por fim, há o número final, que encerrou de forma melhor do que seria possível esperar levando em conta a qualidade do material que o precedeu. Mas já era tarde demais.
A HQ pelo menos oferece a bonita arte de Gary Frank para compensar. A expressividade dos personagens está ótima, facilitando o estabelecimento de uma ligação com eles. A expressão facial de Grey e Laurel nunca são as mesmas, cada quadro oferece uma faceta única do personagem. Isso já muito mais do que a média dos artistas consegue fazer.
Midnight Nation #1-12
*** 6,0
Image/Top Cow | outubro de 2000 a julho de 2002
Mythos | março de 2013
Roteiro: J. Michael Straczynski
Arte: Gary Frank
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