sábado, 4 de abril de 2015

"Trees" subverte as expectativas do gênero e foca na reação humana frente ao desconhecido


Cria da escola inglesa de roteiristas e egresso no mercado norte-americano através da cunhada segunda invasão de roteiristas britânicos, Warren Ellis é um dos maiores expoentes do meio. Sua carreira é marcada desde a origem por histórias provocativas e bem sucedidas. E o tempo parece não ter arrefecido a sua genialidade, de forma que continua extremamente prolífico, apesar de já ser um veterano na área. Depois de um período sem grandes trabalhos, Ellis despontou em 2014 com pelo menos três obras de qualidade, como Supreme Blue Rose (com a bela arte de Tula Lotay), o retorno de Moon Knight (com Declan Shalvey) e, finalmente, Trees, pela Image, em parceria com Jason Howard.

Esse ressurgimento tem muito a ver com a ótima fase da Image Comics, que tem servido como o abrigo ideal para quadrinistas finalmente contarem suas histórias sem a típica castração editorial imposta pelas majors (leia-se DC e Marvel). Esse papel já foi do selo Vertigo durante os anos 90 e no início da década de 2000, mas hoje a maioria dos principais profissionais dos quadrinhos possui um projeto na editora, ainda que continuem com seus trabalhos na Marvel e DC. Scott Snyder, Kurt Busiek, Jason Aaron, Jeff Lemire, Brian K. Vaughan, Jonathan Hickman, Ed Brubaker, Greg Rucka, Matt Franction, Grant Morrison, todos eles estão escrevendo ou estão com um projeto de série para a editora. A liberdade criativa, na maior parte das vezes, está garantindo o alto nível das obras que tem saído, que, apesar de ainda não ter catapultado as vendas das edições avulsas, tem feito muito sucesso no formato encadernado. Tanto é assim que dentre as 25 graphic-novels mais vendidas em 2014 nos EUA, 17 são da Image.

Warren Ellis empacou as já mencionadas e Supreme Blue Rose e Trees. Esta possui uma premissa interessantíssima: o que aconteceria com o mundo se de repente surgissem em todo árvores gigantes que subissem bem além das nuvens. Porém, o surgimento desses colossos não foi seguida de uma invasão alienígena, nem nada do tipo. Sua presença é estática, ainda que sua sombra e influência seja visivelmente opressiva. Ellis começa explorando justamente o impacto que esse mistério tem sobre os humanos, como nós lidaríamos com um mistério aparentemente insolúvel e sem motivo evidente.

A história possui diversos núcleos e, bem lentamente, vamos acompanhando a história de algumas pessoas frente ao desafio de viver nesse novo mundo. De fato, se você está esperando batalhas com alienígenas, ação desenfreada, pode ser que você fique decepcionado com os rumos que a série toma nesse primeiro arco. Ellis preferiu explorar os dramas eminentemente humanos que brotam dessa súbita consciência da pequenez humana à sombra dessas árvores. Mas ele deixa aberta a porta para a ficção-científica e para um pouco de ação, ainda mais se considerarmos as perspectivas que o final do arco deixou para a sequência da obra. Olhos atentos em Ellis!

Trees - Volume 1
Trees #1-8
**** 7,5
Image | fevereiro de 2015
Roteiro: Warren Ellis
Arte: Jason Howard

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