domingo, 17 de maio de 2015

Brubaker aproximou Capitão América dos conflitos modernos sem ignorar seu perfil clássico


O Capitão América, a exemplo do Superman, não é um dos super-heróis mais fáceis de se escrever. É um personagem que tem tudo para ser tachado de datado, mas ainda persevera na indústria e encontrou um nicho bastante adequado para explorar atualmente, sobretudo depois do sucesso dos filmes. O Capitão, se abordado do jeito errado (exacerbando na postura patriótica ou fazendo-o arauto de valores conservadores), pode levar suas histórias ao completo desastre, ainda mais para um público não-americano, que o associa, por vezes, ao que de pior existe na política externa norte-americana.

Por isso que não era trivial a missão de Ed Brubaker e Steve Epting ao assumir a revista do herói em 2005: revitalizar um título que vinha de altos e baixos nos últimos anos. Para isso, a dupla aproveitou o ensejo das comemorações dos 75 anos do personagem para contar uma história que altera radicalmente as bases sobre as quais estava a sua mitologia assentada. Já não é novidade alguma que nessa revista Bucky praticamente voltou dos mortos, se transformando no letal Soldado Invernal. O filme Capitão América 2 trata-se de uma adaptação desse arco, o que já denota que a revista foi um enorme sucesso de público e crítica.

Tirando os leitores mais puristas que se revoltaram com o ressurgimento de Bucky (que até então era tido como morto enquanto tentava impedir que o Barão Zemo lançasse se ataque a missel), foram poucos os que não gostaram dessa nova abordagem trazida por Brubaker ao título. A personalidade do Capitão só teve a ganhar com a história, ao passo que acrescentou novas camadas de dramaticidade a um personagem em si já bastante atormentado. Nessa altura, ele já não era mais somente um "herói deslocado de seu tempo", mas também um personagem pessoalmente ferido.

Ao contrário de heróis bastante populares como Homem-Aranha, Batman e Superman, o Capitão não é conhecido pelos seus laços familiares, tolhendo um potencial de histórias em que esses vínculos poderiam ser explorados. Ao trazer Bucky de volta, Brubaker trouxe talvez o vínculo pessoal mais forte que o Capitão já teve com alguém. Ver suas histórias tomarem esse rumo era tudo aquilo que a revista estava precisando naquele momento.

Por outro lado, como contraponto a essa visão positiva, creio que a história tenha pecado pela falta de objetividade, o que se tratando de uma revista mensal é uma falha perfeitamente natural. Só a leitura continuada de um encadernado pode revelar esse porém. Contudo, não é algo que prejudique a leitura como um todo. Apenas uma observação final: ao contrário da Panini, a Salvat dividiu a história em dois volumes partes, sendo a primeira do arco apresentada no encadernado Tempo Esgotado

Capitão América - O Soldado Invernal
Capitain America #1-9; e #11-14
**** 8,0
Marvel | janeiro de 2005 a abril de 2006
Salvat | outubro de 2013 e janeiro de 2014
Roteiro: Ed Brubaker
Arte: Steve Epting e Michael Lark

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