domingo, 3 de maio de 2015

Stan Lee e Moebius abordaram a ameaça de Galactus sob ponto de vista filosófico em minissérie


Antes da republicação pela Panini do encadernado de Parábola no ano passado, poucos sabiam que Stan Lee e Moebius já trabalharam juntos com um dos personagens mais queridos da Casa das Ideias, resultando numa graphic-novel lendária, uma das melhores da história. A ideia da parceria partiu do próprio Moebius durante um encontro com Stan Lee, assim como a escolha do Surfista Prateado como personagem principal. O herói era da predileção de Moebius, em razão, sobretudo, de o Surfista ser um personagem perfeito para divagações filosóficas e não é segredo para ninguém que Stan Lee nutre uma afinidade especial por ele.

A visão diferenciada de mundo é elemento marcante da personalidade do Surfista. Por isso, de modo a explorar a genialidade de Moebius, Stan Lee criou uma aventura diferenciada, mais reflexiva e adulta, antagonizada por Galactus, um dos vilões mais tradicionais da Marvel e umbilicalmente ligado às origens do Surfista. A origem clássica do herói revela que ele era o arauto de Galactus, "O Devorador de Mundos", até este se voltar contra a Terra. Comovido com o espírito guerreiro do Quarteto Fantástico que não abandonou a luta, embora a derrota fosse patente, o herói prateado se voltou contra o seu mestre e o expulsou do planeta.

Mas os humanos pouco se sensibilizaram. O Surfista começa Parábola caído na marginalidade e amargurado com a inconstância da natureza humana, que é acentuada com o retorno arrebatador de Galactus na Terra. O caos logo se instala e as pessoas se desesperam com o iminente fim do mundo. Se aproveitando dessa fragilidade, um líder religioso coloca Galactus como seu Deus e ele como o único mensageiro.

O interessante nessa história é conferir a maneira como Stan Lee lida com o fanatismo religioso e como a sua radicalização é perniciosa para a sociedade. Em momentos de fraqueza, os homens logo procuram um redentor, alguém que possa lhes liderar e proteger do desconhecido. Vozes dissonantes da maioria tendem a ser reprimidas e tudo que possa questionar a fonte de poder, deve ser extirpado. Em Parábola, essas questões são postas no contexto da religião. Mas não é difícil fazer um paralelo com a sociedade e como em períodos de exceção em geral.

Stan Lee privilegiou abordar mais os conflitos filosóficos e morais nascidos com a chegada com Galactus do que precisamente retratar a batalha frontal entre ele e o Surfista. Moebius no posfácio presente na edição da Abril (de onde eu li a história) confirma a intenção: "Tenho certeza de que algumas pessoas prefeririam mais ação, mas eu, particularmente, acho mais interessante ver a revista em quadrinhos sob um ponto de vista filosófico". Esse é o grande diferencial da obra de Stan Lee e Moebius: sua história transcende o gênero de super-heróis, mas sem perder a conexão com o fã.

Lançado originalmente sob o selo Epic Comics em dois volumes, Parábola ganhou o Eisner de Melhor Série Limitada em 1989, repetindo o feito que Watchmen alcançou no ano anterior.

Surfista Prateado - Parábola
Silver Surfer: Parable #1-2
***** 9,0
Marvel | dezembro de 1988 e janeiro de 1989
Panini | março de 2014
Roteiro: Stan Lee
Arte: Moebius

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