O que esperar do final de Gotham City Contra Crime? Se alguém apostou em um final amargo, acertou. Mas não podia ser diferente, sobretudo se considerar que se trata de uma história centrada na última célula de ética dentro da polícia de Gotham, composta quase só de policiais corruptos. Gotham é uma cidade extremamente injusta, violenta, que exige o máximo da sanidade de seus habitantes. Manter a retidão moral nesse meio é um desafio.
Talvez por isso a série não apele em nenhum momento para personagens unidimensionais, de orientação maniqueísta. Aqui tudo é cinza. Até mesmo os policiais notadamente corruptos tiveram o sua voz dentro da série, como se mostrou na edição que abriu o último encadernado (#32). No decorrer de toda a série, vemos os detetives Unidade de Crimes Hediondos continuamente submetidos a uma realidade contraditória, opressora, onde os limites éticos nunca foram bem estabelecidos. Resta a eles a convicção de fazer bem o seu serviço.
O que vimos no arco que fecha a série é o estreitamento maior desses limites entre o certo e o errado, de modo que cumprir a lei não mais soluciona problema algum, servindo para perpetuar a injustiça e deixando um amargor nos corações de todos. Trabalhar com conceitos tão abstratos, ainda mais num quadrinho policial, é um feito extraordinário. Poucas vezes vi personagens tão bem explorados e desenvolvidos nos quadrinhos.
Desde o início, a série não se omitiu em tocar em assuntos polêmicos, algo inimaginável na DC atual. Poucas vezes vi tanta liberdade criativa dentro da editora. Por isso, a decisão de Rucka em encerrar a série na edição 40 (a essa altura, tanto Ed Brubaker quanto Michael Lark já haviam deixado a DC) é elogiável, evitando que o seu prolongamento desnaturasse a obra como um todo.
Depois de Gotham City Contra o Crime, poucas vezes a DC foi tão feliz com um título, talvez o melhor da década passada.
Gotham City Contra o Crime - Volume 6
Gotham Central #32-40
***** 9,5
DC | agosto de 2005 a abril de 2006
Panini | dezembro de 2007
Roteiro: Greg Rucka e Ed Brubaker
Arte: Kano, Stefano Gaudiano e Steve Lieber
Cores: Lee Loughridge
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