sábado, 17 de janeiro de 2015

Hawkeye continua inventiva e, sobretudo, divertida



Foi Érico Assis em seu blog A Pilha quem chegou a comparar a iniciativa da Marvel de lançar quadrinhos de "vanguarda" com o que fez o selo Vertigo (da DC) durante os anos 90. O editor/tradutor colocou nessa lista de séries diferenciadas e atuais da Marvel como Secret Avengers (de Ales Kot), Moon Knight (de Warren Ellis e Declan Shalvey) e Hawkeye. Ele ainda faz a essencial ressalva de que essa vanguarda na Marvel se dá no meio do tradicional gênero de super-heróis, enquanto que na DC um novo universo foi praticamente criado do zero.

O segundo volume de Hawkeye continua com a mesma pegada do anterior, prezando por histórias quase autocontidas e apenas tangencialmente atrelados a um contexto maior. Mas em Little Hits fica claro que Matt Franction brinca com as expectativas do leitor sobre a história de esperar por desdobramentos imediatos dos acontecimentos das histórias. O clímax criado com o surgimento de um novo vilão no final da edição #9 é aparentemente abandonado no início da edição seguinte. Cabe ao leitor esperar e ir juntando as peças.

Juntar as peças é precisamente o que temos que fazer na história que abre o encadernado. Nessa história Clint Barton continua tendo problemas com a máfia (russa?) que atua no Brooklyn e, principalmente, com a sua TV. Problemas igualmente difíceis para Clint. Nessa edição, Franction e Aja mandaram às favas o convencional e intercalaram em ordem não linear os acontecimentos. Ainda assim não foi exigido muito do leitor, a intenção parece ter sido experimentar e destacar mais a confusão que é a vida de Clint.

Ao final, o encadernado se encerra com o originalíssimo Pizza is my Business. Nos desdobramento dos chocantes acontecimento das edições anteriores, Franction e Aja tem a louca de focar a história no ponto de vista do cachorro de Clint. Daí surgiu uma das HQ's mais experimentais do ano, diferente de tudo que saiu recentemente pelas editoras majors. Aja demonstrou aqui o quanto podem ser ilimitados os recursos narrativos proporcionados pelos quadrinhos, assim com pelas artes gráficas em geral. Pizza is My Business ganhou o Eisner 2014 de Melhor Edição Única.

Finalmente, vale mencionar o trabalho de Matt Hollingsworth nas cores. Profissional de longa carreira na indústria (Preacher, Terra X), ele não apenas se destacou tão somente por sua paleta de cores modernas, mas também por agregar significado dentro da trama. Onde a arte se mostra econômica no detalhamento, as cores cumprem o papel integrador. 

Ah, e o mais importante: Hawkeye continua divertidíssimo.

Hawkeye: Vol. 2 - Little Hits
Hawkeye #6-11
***** 9,0
Marvel | 2012 e 2013
Roteiro: Matt Franction
Arte: David Aja e Francesco Francavilla

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